9 de julho de 2008

A Escrita da História



A nossa relação com a História tem sido sempre uma estória complicada, em que os profícuos modernos meios de comunicação mais têm feito por aprofundar. Permitam-me uma pequena acha para esta fogueira do conhecimento.


John Keegan, prestigiado escritor e professor (jubilado) na Real Academia de Sandhurst [na foto], ao promover, em 1994, o seu livro Uma História da Guerra (A History of Warfare), em resposta a uma pergunta simples - quem leria o seu livro?, aproveitou para dissertar acerca não só da escrita como da leitura da História, os seus esquemas de poder e legitimação. Li, traduzi e agora aqui coloco, pese embora a possível falta de contexto. Para eliminar mal entendidos, no final colocarei a ligação para a entrevista original, em língua inglesa:

Entrevistador: «Este livro, "A History of Warfare," qual a audiência alvo? Quem imagina a comprar este livro?

KEEGAN: Bem, espero que os meus colegas historiadores gostem, alguns gostam outros não, mas eu na realidade nunca escrevi para os meus colegas historiadores. O que eu sempre quis fazer foi escrever o tipo de livro que os outros historiadores tenham de levar a sério, mas que seja um livro para o leitor nornal educado que gosta de estar informado, de ter a sua visão do mundo aumentada acerca de um assunto particular. E eu penso que esta é a mais alta das vocações históricas. Eu desprezo muito... - desprezo quase - enfim, na verdade desprezo a direcção que a escrita histórica universitária tem tomado, na qual enorme esforço e anos de trabaho árduo são devotados a escrever livros que na verdade só interessam a algumas centenas, levantam questões acerca das quais apenas dezenas têm conhecimento enquanto questões e usam cada vez mais linguagem que só outros académicos percebem. Isso parece-me uma perversão da vocação do historiador. O historiador deve escrever para... o historiador deve ser uma pessoa educada, escrevendo para outra pessoa educada acerca de algo que esta última não conhece, mas deseja conhecer de uma forma que possa perceber

Entrevista original aqui.