Já tenho aqui referido algumas vezes o que Lecor teve de emblemático na representação de um novo tipo de oficial superior do Exército Português, nascido da Burguesia mercantil, que vem, de certa forma, substituir a Nobreza, classe que mantinha, até inícios de oitocentos, o privilégio das chefias.
Referi também, e não com algum sentido de ironia, que terá sido com toda a certeza, um desses nobres, D. Pedro de Almeida Portugal, 3.º Marquês de Alorna, que liderou a mudança. José Norton, em O Último Távora, demonstra bem este período e toda uma nova casta de oficiais nobres na senda do Iluminismo português, fruto do trabalho do Marquês de Pombal e do seu Real Colégio dos Nobres. Também sei que os Alornas já vinham de uma longa tradição francófila, avançada no seio da velha Nobreza portuguesa - a análise da biblioteca do 1.º Marquês de Alorna mostra-nos isso, com uma percentagem bastante grande de livros não-religiosos, coisa relativamente estranha no contexto da Alta Nobreza.
Lecor privou durante bastante tempo (10 anos) com o seu General, Marquês de Alorna, tomando historicamente o seu lugar na vanguarda do novo pensamento militar português.
Assim, já após a Guerra Peninsular, onde se estabeleceu definitivamente como um novo tipo de comandante, fruto, ao mesmo tempo do rigor britânico e da sua herança pessoal e profissional, Lecor vê-se com o poder de alterar o estado das coisas. Enquanto comandante da Divisão de Voluntários Reais do Príncipe, e durante a longa preparação do corpo em Belém, no ano de 1815, o Tenente-General Lecor procede a uma geral vacinação dos homens da sua Divisão, pelo que no ano seguinte foi subido à consideração das mentes pensantes do nosso Portugal.
Em sessão pública da Academia Real das Sciencias de Lisboa, de 14 de Junho de 1816, o Doutor Justiniano de Mello Franco, ao dar notícia dos indivíduos que se distinguiram em prol da saúde pública em Portugal, anuncia o seguinte:
Referi também, e não com algum sentido de ironia, que terá sido com toda a certeza, um desses nobres, D. Pedro de Almeida Portugal, 3.º Marquês de Alorna, que liderou a mudança. José Norton, em O Último Távora, demonstra bem este período e toda uma nova casta de oficiais nobres na senda do Iluminismo português, fruto do trabalho do Marquês de Pombal e do seu Real Colégio dos Nobres. Também sei que os Alornas já vinham de uma longa tradição francófila, avançada no seio da velha Nobreza portuguesa - a análise da biblioteca do 1.º Marquês de Alorna mostra-nos isso, com uma percentagem bastante grande de livros não-religiosos, coisa relativamente estranha no contexto da Alta Nobreza.
Lecor privou durante bastante tempo (10 anos) com o seu General, Marquês de Alorna, tomando historicamente o seu lugar na vanguarda do novo pensamento militar português.
Assim, já após a Guerra Peninsular, onde se estabeleceu definitivamente como um novo tipo de comandante, fruto, ao mesmo tempo do rigor britânico e da sua herança pessoal e profissional, Lecor vê-se com o poder de alterar o estado das coisas. Enquanto comandante da Divisão de Voluntários Reais do Príncipe, e durante a longa preparação do corpo em Belém, no ano de 1815, o Tenente-General Lecor procede a uma geral vacinação dos homens da sua Divisão, pelo que no ano seguinte foi subido à consideração das mentes pensantes do nosso Portugal.
Em sessão pública da Academia Real das Sciencias de Lisboa, de 14 de Junho de 1816, o Doutor Justiniano de Mello Franco, ao dar notícia dos indivíduos que se distinguiram em prol da saúde pública em Portugal, anuncia o seguinte:
Foi nomeado Correspondente, e obteve o competente diploma o Ill.º e Ex.mº Snr. Carlos Frederico Lecor, Tenente General, Commandante da Divisão de Voluntarios Reaes do Principe. Este habil General fez vaccinar muitos dos seus Soldados nos ultimos dias da sua partida, e deo as ordens necessarias, para que a vaccinação continuasse durante a viagem.
Aqui fica, sem mais análise que a feita ao início deste post, o resultado das grandes alterações no exército e na sociedade portuguesa, na qual vemos o nosso amigo Carlos Frederico, cavalgando na vanguarda.
* * *
“O Exmo.
Sr. General Carlos Frederico Lecór, querendo que a Tropa que
conduzia, e ia Commandar ao Rio de Janeiro, fosse vaccinada, os que o
percisavão, antes de embarcar, não só concorreo com ella á
operação , mas S. Ex.ª, mesmo quiz ser vaccinado o primeiro, e em
presença da sua gente , julgando até honrar-se com fazer á
instituição Vaccinica a honra de ser seu correspondente, de que com
muito boa vontade se-lhe-deo competente Diploma, e as graças por tão
delicado comportamento.”
Jornal de
Coimbra, Volume IX – Parte I, n.º 46, Lisboa, Imprensa Régia,
1816. p. 252
Mas Alorna, sendo iluminista, tinha o problema de ser um aristocrata elitista, tal como o Duque de Lafões.
ResponderEliminarNessa época não era estranho encontrar o iluminismo num quadro social de elitismo social. Prova disso são as medidas de exclusão da burguesia na classe de oficiais, e a repulsa do que entendiam ser os Sargentos- generais( Teixeira Rebelo).
Lafões tenta reitroduzir a aristocratização da classe de oficiais. Alorna é assim, um iluminista aristocratico, que em função da sua carreira militar abre a excepção a alguns oficiais, entre os quais Lecor
Sem dúvida, concordo plenamente,
ResponderEliminaro Alorna funciona como ponte ou transição, exactamente por ser de uma família que na alta nobreza se destacava pela sua francofilia. No entanto, não deixa de representar a alta nobreza e como tal, tinha uma cosmovisão distinta da burguesia emergente.
A relação entre Alorna e Lecor, apesar de tudo não é nada que já não acontecesse normalmente, no sentido em que a Nobreza tentaria "guiar" esta nova burguesia esclarecida no bom sentido, isto é, o nobre assume uma missão de professor/guia/mestre social das outras classes.
A Guerra Peninsular sim é o canto do cisne da alta nobreza portuguesa, abrindo caminho àquela pequena nobreza e à burguesia mercantil.
Abre caminho a uma nova nobreza titular de origem militar.
ResponderEliminarAlgusn burgueses e outros fidalgos de provincia.
Sim, um bom exemplo dessa fidalguia de província é o Francisco Paula d'Azeredo, que vem a ser o 1.º Conde de Samodães, e que foi subordinado do Lecor (seu Major de Brigada) do final de 1809 ao início de 1811.
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