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17 de novembro de 2013

'Frio por caracter y absolutista por hábito profesional'


Na minha busca de Lecor, não encontrei senão meros esboços do homem por trás do militar, nada de cartas pessoais e apenas meras referências esporádicas à sua vida pessoal e íntima. 

Gen. Tomás de Iriarte
(1794-1878)
O extrato que publico veio colmatar alguma dessa falta, não porque nos dê a dimensão humana mais íntima dele, mas porque é o aprofundamento das memórias de um general argentino que usufruiu da hospitalidade portuguesa em Montevidéu, Tomás de Iriarte [NA FOTO], oficial de artilharia, e que o conheceu. Iriarte esteve em Montevidéu pelo menos em 1817/18 e em 1820, em momentos de exílio face à situação política conturbada nas então Províncias Unidas do Rio da Prata.

O extrato que apresento, que faz parte das memórias de Iriarte, diz respeito a quando este conheceu Lecor em Montevidéu, em 1820, pois noutro momento das sua smemórias este refere-se ao interesse que o general português votada ao General San Martin, nas conversas que mantinha, e a expedição que se preparava em Buenos Aires contra o exército realista espanhol no Chile, como se veio depois a concretizar.

Tomás de Iriarte, que é normalmente criticado por ter as pessoas que retrata nas suas memórias em péssima estima, por algum desapontamento 40 anos depois, quando escreve o livro, é face a Carlos Frederico Lecor (recém feito Barão da Laguna) extremamente honesto e equilibrado e, na opinião deste que vos escreve, retrata o general português, buscado incessantemente neste blogue, de uma forma que articulada com todos os outros pequenos extratos que já li, nos faz fé de ser extremamente incisiva e correta, não nos dando todo o homem, mas aquele como era visto por outros, a única perspetiva a que tenho acesso.

Coloco o texto na sua língua e ortografia original, assim como uma gravura de Lecor na altura dos factos.


«No era este, en verdad, un hombre vaciado en el molde comun, pero es igualmente cierto que no se distinguia por calidades relevantes, espresion del genio. Su aspecto y su caracter revelaban la escuela y profession del soldado envegecido en los campos; pero ni se entienda por esto que careciese de urbanidad y cortesania: al contrario, era afable y complaciente, sin derogar de su dignidad, com quantos cultivaban su trato; y unia á un talante severo la compostura del hombre culto avezado à la alta sociedad. Hombre de mundo, su espíritu conciliador fué un resorte eficaz que constantemente puso en juego para consolidar su conquista; y si porque los orientales no podian soportar el yugo estrangero, el general Lecor no fué el idolo del pueblo, tampoco puede aseverarse que alimentasen contra él sentimientos de odio y reprobacion personal. Si mas tarde la presa se le escapò de las manos, no se podria com justicia hacerle un cargo de incapacidad, porque los acontecimientos se agolparon com fracaso y rapidez, y todo el saber humano no habria podido dominarlos. En fin, y para concluir el retrato del general Lecor, en que insensiblemente nos hemos empeñado, daremos la última pincelada:  ̶̶ era frio por caracter y absolutista por hàbito profesional, bajo una monarquia ilimitada: no habia en su dilatada carrera conocido outro sistema que el de la obediencia pasiva, y lo creia el único conveniente; pero los estimulos de su corazon eran nobles y desapasionados.»

Tomás de Iriarte, Glorias Argentinas y Recuerdos Historicos (1818-1825), Buenos Aires, Libreria de da Victoria, 1858 (pp. 19-20)

25 de setembro de 2008

Heroi Rio-grandense


O caro leitor já não se lembra, decerto, mas num dos primeiros posts [Heroi Brasileiro] que coloquei neste modesto blogue, a 18 de Março desta ano, apresentei um pequeno passo de um poema épico acerca da independência do Brasil, especificamente acerca de Lecor e da sua participação no eventos militares que consagraram um Brasil independente.

Desta feita, fora do domínio estritamente épico, na pena de uma senhora rio-grandense, cega de nasceça, D. Delfina Benigna da Cunha, eis que encontro mais um pormenor poético dedicado ao nosso heroi, Carlos Frederico Lecor. Um soneto - nada mais - dedicado ao nosso tenente-general:


SONETO

Por occasiaõ da nomeação do Visconde de Laguna
para General em Chefe do Exercito do Sul

Rio Grande, és feliz, Lecór famoso,
O grande General, o sabio, o forte,
Brandindo a sua espada, qual Mavorte,
Vai injurias vingar, vai ser ditoso.

Ressachando o inimigo temeroso,

Ganhará da victoria a honrosa sorte;
E tu, que o amor de Pedro tens por norte,
Exulta de prazer, Rio caudoso.

Elle te dá no Heróe potente e justo

Escudo impenetravel contra o crime.
Desterra, Patria minha, a dôr, o susto;

Dize d'hum grito só, que tudo anime:

Viva Pedro immortal, Inclito, Augusto;
Viva o grande Lécor, homem sublime.


In: Poesias Offerecidas às Senhoras Rio-grandenses por sua patricia D. Delfina Benigna da Cunha, Typographia Austral, Rio de Janeiro, 1838 - p. 139.

Resta saber, no entanto, a qual das duas nomeações de Lecor a D. Delfina se refere. Se a primeira, a 11 de Abril de 1826, ao início da Guerra da Cisplatina, entre o Brasil e a Argentina, se a segunda, na parte final da mesma guerra, a 18 de Julho de 1827 (Lecor só toma posse do cargo em Janeiro de 1828; a guerra acaba em Outubro).

Calculo que se refira à primeira nomeação, muito embora a segunda não tenha provocado menos emoção e esperança entre os Rio-grandenses, desesperados como estavam com a condução da guerra por Barbacena.

De notar, em tom de guerrilha pró-lecoriana, que poucos autores referem que Lecor foi, por duas vezes, comandante das forças brasileiras na Guerra da Cisplatina; quase nenhum autor refere mesmo que ele foi o comandante ao final da guerra. Nada que me impressione já, pois o próprio Carlos Frederico era exemplo de humildade política, ao contrário de outros generais da altura, que combatiam mais com o Rio de Janeiro à vista, em vez do inimigo...

Imagem
Vista da Serra Geral (foto de Alex Pereira, Wukicommons)