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13 de outubro de 2019

Casamento com D. Rosa, 3 de Dezembro de 1818, Montevideu


A 3 de Dezembro de 1818, já mais de meio ano após ser feito barão da Laguna, o capitão general Carlos Frederico Lecor casa-se com Dona Rosa María Josefa Deogracias de Herrera y Basavilbaso, uma jovem montevidenha nascida a 22 de Março de 1800. 

Apesar da diferença de idades - Lecor tinha 54 anos de idade e Rosa 18 -, o tipo de casamento não era incomum e inseria-se também na política geral de incentivo a que oficiais portugueses se casassem com meninas de Montevideu, com vista a estreitar os laços. 

Como em 1816, em Lisboa, quando se fez vacinar em frente aos soldados, também agora se casava para que outros lhe sigam as pisadas.

Em seguida, o assento de casamento:

"En tres de Deciembre de mil ochocientos diez i ocho; El Dr. D.n Damaso Antonio Larrañaga Cura Vicario. Juez Eclesiastico de la Iglesia Matriz de Montevideo, Delegado general por el S.r Governador del Obispado en todo este Estado Cisplatino, Comendador de la Orden de Christo, &, &. Certifico en cuanto puedo i ha lugar en derecho que en el día tres de Deciembre del mil ochocientos diez i ocho, desposé i casé por palabras de presente según rito de Nuestra Madre la Iglesia Catholica Romana al Ilmo i Exmo Señor Capitan General i Baron de la Laguna D.n Carlos Federico Lecor, con la Ilma y Excm.a D.a Rosa de Herrera, natural de esta Ciudad, hija de legítimo matrimonio del Sr. D.n Luis Herrera i de la S.ra D.a Gervasia Basavilbaso: Siendo testigos dicha D.a Gervasia i D.n Franco Muñoz i es para los fines que les convenga les doi á su solicitud este Certificado: Montevideo. Febrero once de mil ochocientos veinte i dos. DAMASO ANTONIO LARRAÑAGA. 
- Esta copia concuerda en todo con el Original que el referido Sr.Vizconde i Baron de la Laguna me presentó por manos de su Capellán el P. D.n Buenav.ª Borras Lector en Sagrada Theologia del Orden Cister.. en el dia trece de Febrero de mil ochocientos veinte i seis i por verdad: Con indisposicion i comision del S.r Cura i Vicario D.n Damaso Antonio Larrañaga lo firmo como Theniente de Cura de esta Iglesia Matriz de la r eferida Ciudad de Montevideo. Fecha ut supra. - Fermín Bouquete Azuan".(Archivo de la iglesia Matriz, "Libro 1.º/de/Matrimonios/empieza/en Mayo de 1819": Montevideo).



A Igreja Matriz de Montevideu (Catedral Metropolitana de Montevideu) foi construída a partir de 1790, tendo por base a igreja mais antiga que havia ruido parcialmente em 1788. Localiza-se em frente ao Cabildo, na área mais nobre e central de Montevideu.

As fontes indicam que a nova D. Rosa foi uma das primeiras noivas montevidenhas a ir de carro para a igreja, um novo hábito introduzido nesta altura.

Muitos outros oficiais vêm a casa com damas de Montevideu, incluíndo um primo de Lecor, Vicente António Buys, assim como muitos outros, alguns dos quais se tornam oficiais uruguaios, quando da independência em 1830.

Dona Rosa Lecor

Há muito pouca informação sobre a noiva, D. Rosa, exceto a sua geneologia, e uma carta que escreveu em 1836, quatro meses depois do falecimento do marechal Lecor, visconde da Laguna, que vos deixo em seguida e que é a única vez ue se ouve a voz de D. Rosa Maria, a viscondessa da Laguna:

"Rio Janeiro 6 de Diciembre de 1936 [sic]. 
Mi querida hermana 
Mucho te agradezco el interés q.e tomas en mi desgracia. El estado en q.e ha quedado mi corazón és ciertamente digno de lástima mi cara Inés, yo quería mucho al Visconde y era por el idolatrada, ¿que mas podía apetecer ni q.e me podrá hoy consolar? Mas en fin, querida Amiga, esto mismo me alivia, porq.e nunca puede ser una Muger tan querida sin merecerlo; así pues, la idea de haber hecho su felicidad, me conforta, y el cariño de ustedes me hará pasar el resto de mi vida conforme y tranquila. 
Estimo mucho el estado de buena salud de mis sobrinitos, (Juan José, Luis Pedro, María, y Alfredo de Herrera y Perez) así como el cariño q.e has sabido infundirles hácia mi. Los hijos de mi hermano (Luis) siempre serían muy caros a mi corazón querida Inés, mas siendo estos tambien tuyos, tienen mucho mas derechos a mi cariño, y te aseguro, q.e siento por ellos un afecto q.e no te puedo explicar, así como el deseo de conocerlos y abrazarlos. 
Entre tanto que no llega ese dia, dispon como gustes dela verdadera amistad q.e te profesa tu Hermana y antigua Amiga, ROSA"
(Archivo particular de la señora Manuela de Herrera de Salterain, Montevideo)


* * *

Imagens
Fachada da Igreja Matriz de Montevideu (ver) e interior (ver)

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Fontes
- Boulevar[d] Sarandí: 250 años de Montevideo : anécdotas, gentes, sucesos, Volume 2, Ediciones de la Banda Oriental, 1977
Milton Schinca, Mujeres desconocidas del pasado montevideano, Ediciones de la Banda Oriental, 1999
Milton Schinca, Boulevard Sarandí: memoria anecdótica de Montevideo, Ediciones de la Banda Oriental, 2003

20 de outubro de 2016

Leituras: blogue Os Voluntários Reaes: 1814-1824



Sugestão de leitura
OS VOLUNTÁRIOS REAES
blogue

No final de 1814 foi mandada aprontar uma divisão de voluntários, a ser composta de pouco menos de 5000 militares das três armas, com o objetivo de intervir no sul do Brasil. Este blogue é uma humilde contribuição para o conhecimento da história da Divisão de Voluntários Reais do Príncipe, e depois d'El-Rei, entre 1815 e 1824. 


Comemorando o bicentenário da campanha de Montevidéu 1816-2016


http://dvr18151823.blogspot.pt/

11 de janeiro de 2016

Apontamentos históricos a respeito dos movimentos e ataques das forças general Carlos Frederico Lecor na Banda Oriental desde 1816 até 1823 (Lobo Barreto)


Apontamentos históricos a respeito dos movimentos e ataques das forças do comando do general Carlos Frederico Lecor, quando se occupou a Banda Oriental do rio da Prata desde 1816 até 1823 com que a Divisão dos Voluntários Reaes evacuou a praça de Montevidéu (Por uma testemunha ocular)

[As memórias de João da Cunha Lobo Barreto, que foi em tenente de caçadores na Divisão de Voluntários Reais.]

26 de setembro de 2014

Memória do Quartel-General de Montevideu (1818)

Henry Marie Brackenridge (1820), Voyage to Buenos Ayres Performed in the years 1817 and 1818 by Order of the American Government, London.


Apontamentos de Henry Marie Brackenridge acerca da sua estadia em Montevideu
e contacto com o comando militar português de 20 a 26 de Fevereiro de 1818.


Paolistas, Soldiers of the East Bank of the Plata
Emeric Essex Vidal - Picturesque illustrations of
Buenos Ayres and Monte Video (1820)

[Montevideu 22 de Fevereiro de 1818]

“Dessa forma procedemos para os alojamentos do general português, que ocupam uma das maiores e melhores casas na cidade. Entrámos num pátio ou veranda espaçoso, com galerias a toda a volta, por uma guarda de tropas negras, com aspeto brilhante e gorduroso, vestidos com uniformes vistosos. Nestes países os negros são preferidos para guardas e sentinelas, perto dos oficiais de distinção.

Depois de passarmos por vários salas, cruzando-nos com sentinelas e oficiais de serviço, que exibiam perante nós a pompa e circunstância do estabelecimento de um grande chefe, entrámos numa sala onde fomos polidamente convidados a nos sentar.

Mal tivémos tempo de nos refazer das reflexões produzidas por isto, para nós, uma cena inusual, quando o general ele próprio fez a sua aparição, com a qual ficámos extremamente impressionados. Ele é uma figura notavelmente elegante, alto e erecto, com uma dignidade nativa sem afetação de maneiras. Tem para cima de 55 anos, a sua tez é demasiado clara para um português; de facto, soubemos depois que ele é de descendência flamenga. A personalidade deste oficial não contradiz a impressão favorável que a sua aparência é calculada a fazer. A sua reputação é a de um soldado bravo e honrado, e de um homem polido e altruísta. Pelo que todos dizem, no entanto, ele não é excluvivamente devedor destas suas boas qualidades, pela sua elevação de um baixa estação de vida. O Sr. Bland apresentou-se através do White, que atuou como intérprete, e, após alguma conversação, no qual apresentou os motivos da visita, aceitou um convite geral para jantar no dia seguinte, o general ao mesmo tempo da forma mais prestativa prometia os seus serviços.” p. 45-46.

[Montevideu 23 de Fevereiro de 1818, 15 horas]

“Encontrámos um grande número de pessoas reunidas, todos eles oficiais portugueses de terra e mar, exceptuando um cavalheiro num fato de cidadão, que, fomos informados, era um agente de Buenos Aires, num qualquer negócio especial; ele parecia um homem inteligente e aguçado, e o seu fato preto simples formava um singular contraste com os esplêndidos uniformes, e cruzes, e medalhas dos oficiais portugueses. Os divertimentos foram os mais sumptuosos. Era, com efeito, um banquete, composto de tudo à laia de peixe, carne e caça, que possa ser imaginado, sendo seguido por toda a qualidade de frutas que tanto este mercado como o de Buenos Aires podem oferecer. Os nossos ouvidos eram ao mesmo tempo regalados com a mais doce música da banda do General. Muitos destes oficiais, particularmente os ajudantes do General, era notavelmente belos homens; Acontece que me sentei junto a um deles, com quem pude conversar bastante. Ele expressou grande admiração pelas nossas instituições políticas, e caráter nacional, parte das quais eu obviamente tomei como cumprimentos. Ele falou dos patriotas de Buenos Aires como um grupo faccioso, incapaz de estabelecer um governo sóbrio; os seus líderes todos corruptos, e desejosos apenas de adquirir uma pequena dose de auto importância; o povo ignorante, e à mercê de demagogos ambiciosos: ele contrastava o caráter deles com as virtudes e inteligência do povo dos Estados Unidos. Ele falou de Artigas, como um atroz selvagem, e declarou um acontecimento recente de tratamento cruel aos seus prisioneiros; que o seu povo era, como todos os selvagens, totalmente insensível aos sentimentos da humanidade. Ele falou de uma forma pouco elogiosos acerca dos ingleses, e manteve a ideia que algumas vãs tentativas haviam sido recentemente feitas da sua parte, para induzir o Rei de Portugal a retornar a Lisboa.” p. 52-53.




(tradução: Jorge Quinta-Nova; original pode ser lido aqui)

20 de janeiro de 2013

Entrada em Montevidéu - 20.1.1817

"Na segunda-feira, 20 de janeiro de 1817, ao romper do sol, se formaram os Corpos no maior asseio possível, a fim de seus respectivos Comandantes lhes passarem as competentes revistas, e depois de reunida toda a Coluna, pôs-se ele em marcha para a Capital da Banda Oriental.
Às 9 horas, o Major Manoel Marques de Sousa, à frente de um esquadrão de cavalaria da Legião de São Paulo [oficialmente Legião de Voluntários Reais, criados em 1775 - futuro 3.º Regimento de Cavalaria de 1.ª linha do Império] e de outro de Voluntários do Rio Grande [criados em Vaimão, RS, em 1770 - futuro 4.º Regimento de Cavalaria de 1.ª linha do Império], fez alto junto às trincheiras da cidade.
Às 11 horas, chegou o Tenente-General Lecor com o grosso da Divisão de Voluntários Reais e as Tropas brasileiras postas à sua disposição.
O Síndico Bianquini, ao entregar-lhe as chaves da cidade, disse:

De acordo com a vontade do povo, de que somos representantes, entregamos as chaves desta muito fiel, reconquistadora e benemérita Cidade de São Filipe e Santiago de Montevidéu ao muito alto e poderoso Príncipe D. João VI, rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, evocando a proteção de suas armas para esta Província infeliz, certo de que Sua Majestade Fidelíssima respeitará as nossas leis, usos e costumes, e esperando que, no caso de resolver Sua Majestade para o futuro a evacuação desta praça, devolverá ao Cabildo estas chaves que dele recebe.

O General Lecor, saudado como libertador, [...], foi conduzido debaixo de pálio e assim levado à Matriz, onde se entuou Te-Deum; depois a Tropa percorreu algumas ruas do centro da cidade e, à excepção da Coluna de Vanguarda que se aquartelou na Cidadela, foram as Unidades formar uma linha cerca de uma légua da praça, cobrindo os subúrbios, todos com postos avançados.
Consumira a Divisão de Voluntários cerca de sete meses incompletos para deslocar-se de Santa Catarina até Montevidéu."

Excerto tirado de: Gen. Paulo de Queiroz Duarte (1984), Lecor e a Cisplatina 1816-1828 (Volume I), Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército - p. 247
Imagem, de gravura de Gilberto Bellini, desconheço a fonte de onde foi retirada (encontrei-a na wikipedia em língua espanhola), representa a entrada das tropas luso-brasileiras em Montevidéu.

Tropas sob o comando de Lecor à entrada em Montevidéu

Divisão de Voluntários Reais
1.ª Brigada de Infantaria:
- 1.º Regimento de Infantaria ... 1,040
- 1.º Batalhão de Caçadores ... 712
2.ª Brigada de Infantaria:
- 2.º Regimento de Infantaria ... 1,076
- 2.º Batalhão de Caçadores ... 615
Cavalaria ... 756
Artilharia ... 233
(Total de 4,432 efectivos)

Unidades Brasileiras
Batalhão de Infantaria do Rio Grande ... 220
Esquadrão de Cavalaria do Rio Grande ... 113
2 Esquadrões da Legião de São Paulo ... 54
2 Esquadrões da Milícia do Rio Grande ... 196
Companhia de Artilharia a Cavalo ... 62
Guerrilhas do Rio Grande ... 17
(Total de 662 efectivos)

Grande total de 5,094 efectivos

16 de março de 2008

Visita ao Quartel-General em Montevidéu


Nos último dias de Fevereiro de 1818, pouco mais de um ano após a conquista de Montevidéu pelas forças portuguesas, Henry Brackenridge, secretário de uma missão norte-americana a Buenos Aires, viajando na Fragata "Congress" [na foto, em 1857], visitou o Quartel-general de Lecor, oferecendo-nos um testemunho interessantíssimo. Acompanhemos então Mr. Brackenridge, na sua língua nativa:

We accordingly proceeded to the quarters of the Portuguese general, who occupies one of the largest and best houses in the city. We entered a spacious court or veranda, with galleries all around it, through a guard of black troops, with sleek and greasy looks, and dressed in showy uniforms. In these countries the blacks are preferred as guards and centinels, about the persons of officers of distinction.

After going through several apartments, passing centinels and officers on duty, exhibiting to us all the pomp and parade of the establishment of a great military chief, we entered an apartment where we were politely invited to sit down.

We had scarcely time to recover from the reflections produced by this, to us, unusual scene, when the general himself made his appearance, with which we were much struck. He is a remarkably fine figure, tall and erect, with a native unaffected dignity of manners. His age is above fifty-five [close enough, he completed 54 in the previous October, 6th], his complexion much too fair for a Portuguese; indeed, we afterwards learned that he is of Flemish descent. The character of this officer does not contradict the favourable impression which his appearance is calculated to make. His reputation is that of a brave and honourable soldier, and a polite and humane man. From all accounts, however, he is not exclusively indebted for these good qualities for his elevation from a low rank in life. Mr. Bland introduced himself through White, who acted as interpreter, and after some conversation, in which he stated the motives of the visit, he accepted a general invitation to dine the next day, the general at the same time in the most obliging manner tendering his services.
Henry Marie Brackenridge (1820), Voyage to Buenos Ayres Performed in the years 1817 and 1818 by Order of the American Government, London.