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19 de abril de 2018

António e Jorge Lecor vão para a Artilharia (1789)


Mais uma pequena contribuição para o conhecimento da família Lecor, neste caso os dois irmãos mais novos de Carlos Frederico e os que primeiro entraram no Exército. Os elementos foram retirados do livro mestre regimental n.º 6 da Infantaria de Faro e referem a sua transferência para o regimento de Artilharia do Algarve, em função de serem declarados 'cadetes' de artilharia. Ao contrário da infantaria, onde eram declarados cadetes de facto, os 'cadetes' de artilharia estavam nas fileiras das companhias como praças e sargentos, até serem promovidos a patente, normalmente de 2.º Tenente.

O regimento de infantaria, apesar de se chamar de Faro, já há algum tempo que estava aquartelado em Tavira, a capital, então, do Algarve. Junto a ele funcionava a Aula Regimental, leccionada pelo tenente coronel José Sande de Vasconcelos.
Apesar de residirem em Faro, António e Jorge Lecor incorporaram-se ao regimento de infantaria, muito possivelmente para frequentar a referida aula, essencial para a carreira de um oficial de artilharia.

O decreto de 30 de julho de 1762, referido como a legislação sob a qual a transferência dos dois irmãos acontece, indica que o general local pode aprovar sem mais formalidades a transferência dos efetivos para a artilharia. Obedecia a uma tentativa de preservar a integridade da formação dos novos oficiais de artilharia.

Livro nº 6 - Livro de Assentamentos dos Oficiais e Praças do do Regimento de Infantaria de Faro, de 1788 a 1795. (PT/AHM/G/LM/B-14/06)

Soldados da 2.ª companhia do tenente coronel


[f. 63]

95  p.  
Antonio Pedro Lécor
idade: 19
5 pés 4 ½ polegadas [1,64 m]
cabelos louros
olhos azuis
De Lisboa
Solteiro
tempo do juramento: 10 Março 1788
Cazualidades: Passou para o Regimento de Artilharia deste reino. Baixa a 16 de julho de 1789.
Fiador: Voluntario. Filho de Luiz Pedro Lecór, fiador seu thio Antonio Pedro Bouiz [Buys]
Observações: Por ordem do do Marechal de campo Agostinho Janssen Moller, governador interino de armas deste reino, se lhe fez a passagem na conformidade do decreto de 30 de julho de 1762.

[f. 65]

95  p.  
Jorge Frederico Lécôr
idade: 17
5 pés 3 polegadas [1,60m]
cabelos louros
olhos azuis
De Lisboa
Solteiro
tempo do juramento: 10 Março 1788
Cazualidades: Passou para o Regimento de Artilharia deste reino. Baixa a 16 de julho de 1789.
Fiador: Voluntario. Filho de Luiz Pedro Lecór, fiador seu thio Antonio Pedro Bouiz [Buys]
Observações: Por ordem do  Marechal de campo Agostinho Janssen Moller, governador interino de armas deste reino, se lhe fez a passagem na conformidade do decreto de 30 de julho de 1762.

[Não localizei a certidão de batismo de Jorge Frederico, que calculo seja ou 1771 ou 1772, mas esta informação parece localizar o seu ano de nascimento em 1771.]

Fonte
Arquivo Histórico Militar

Imagem
Ponte romana, em Tavira.

13 de junho de 2015

Memórias: Sargento Mor José António da Rosa (1793)


Na sua obra seminal Excerptos Históricos, Cláudio de Chaby convoca frequentemente os raros memorialistas portugueses das guerras revolucionárias e da guerra peninsular, assim como alguns britânicos. Aqui faço gosto de apresentar a transcrição de uma destas memórias, das mais raras ainda pertinentes ao Exército Auxiliar que combateu na Campanha do Roussilhão e da Catalunha, de 1793 a 1795, aliado à Espanha, inserido na maior guerra da Primeira Coligação.

O Sargento Mor (hoje, major) José António Rosa (1745-1830), proveniente do Regimento de Artilharia da Corte (em 1806, o n.º 1), era o comandante da brigada de Artilharia do Exército Auxiliar, forte de 450 homens, e relata o que lhe aconteceu na viagem marítima de Lisboa a Rosas, na Catalunha.



José António Rosa
«Depois que no dia 20 de Setembro de 1793, embarquei com destino para o porto de Rosas, indo a brigada da minha obediência em dois navios, um dos quaes era comandado por Antonio Teixeira Rebello, e o outro por mim, chegámos à altura do cabo de Gattes com os mais navios do comboio, e encontrando ali tempos contrarios os navios se desordenaram, e quasi todos, ainda que separados, foram obrigados a arribar a Cartagena, uns por falta de aguas e mantimentos, outros porque os mares os não deixavam seguir. O navio que eu mandava, foi um dos que arribou àquelle porto duas vezes, até que na segunda arribada nos encontrámos ali com a nau capitania, com a qual saimos; porém, continuando o mau tempo, no fim de quatro horas a capitania não apparecia, e dos navios do comboio só nos achávamos reunidos dois quando chegámos à altura da ilha de Mahon, sendo o outro navio da minha conserva, o em que ia parte do Regimento de Peniche [futuro n.º 13] à obediência  do seu Coronel António Franco [de Abreu]. N’esta altura tivemos noticia de que n’aquelles mares andavam alguns corsarios argelinos, e com tal noca cui- // dámos em nos conservar para que, no caso de sermos acommettidos, mutuamente nos defendessemos e ajudassemos; para este effeito adoptei todas as providencias  que em similhante occasião me eram possiveis; sendo-me em taes circumstancias de grande soccorro, alguns barris de polvora que o navio por acaso levava, da qual destinei parte para seis peças que o mesmo navio montava, e à outra para os soldados se servirem como infanteria; e não havendo ballas para as espingardas, utilisei-me de algum chumbo que mandei fundir em cylindros, e depois cortar em pequenos pedaços que que os soldados fizeram balas tão esphericas como as que saem da fundição; e d’este modo forneci a cada soldado dos que deviam servir com armas, quinze cartuchos, sendo tudo praticado em um dia. Tambem, para supprir as granadas de mão, que não tinha, e tão precisas são nas abordagens, mandei que vinte e quatro soldados entregassem as suas latas de agua, e em cada uma d’estas se metteu um e meio arratel de polvora, tapando-se as bocas das mesmas latas com rolhas de cortiça furada de alto a baixo; por onde passava um estopim, regulado segundo o tempo preciso para se lançarem na embarcação inimiga; e estando d’este modo prevenido, e a gente com os seus postos nomeados, tanto para o serviço de infanteria, como para o de artilheria que se achava já bem preparava, na madrugada do dia 8 de novembro, diante do cabo de Santo Antonio, as sentinellas me deram parte que appareciam duas vélas, vindo uma com a prôa para nós, o que sendo vito por mim, me determinou a mandar logo a ir a postos toda a tropa: o mesmo fez o coronel Antonio Franco, pois via que o meu navia ia a seracommettido pelo outro que, segundo o rumo e distancia a que já se achava, com todo o fundamento era considerado por inimigo. Quando chegou a dita embarcação a permittir-me pela sua proximidade o poder servir-me da minha artilheria, levantei a nossa bandeira que firmei com um tiro de bala, indo esta afundar-se junto ao casco do navio aggressor, o qual mudou então, de rumo, sem que levantasse bandeira, nem se lhe visse um só homem, apesar da pouca distancia a que se achava de nós; o que deu bem a entender que a sua tenção era de nos atacar no caso de não nos achar tão promptos para os receber (3)»


“(3) .... pag. 50
Ao favor do sr. Dr. Thomás José de Sousa Rosa, e de seu irmão o sr. Pedro José de Sousa Rosa, dignos filhos do benemerito general, devemos o conhecimento do interessante escripto, do qual extrahimos as noticias a que é referida esta nota, e outras de que aproveitámos na composição do nosso trabalho; e mais devemos a faculdade de fazer copiar, de um retrato, obra do nosso insigne Sequeira, aquelle que do mesmo general illustra as paginas d’este livro.
À confiança que a s. Ex.as merecemos, tornando-nos depositario de taes e tão justa e zelosamente queridas recordações, somos de todo o coração agradecido; e para documento d’esta verdade, traçamos as presentes linhas, que concluiremos com a declaração sincera de muito nos honrarmos alliando-nos com s. Ex.as, nos sentimentos de saudade e veneração, que exemplarmente tributam à memoria de seu estremecido pae, ornamento brilhante da nossa patria, por elle muito querida, e muito honrada na laboriosa profissão das armas.”

Excertos de: CHABY, Claúdio de, Excerptos Históricos e Colleção de Documentos Relativos à Guerra Denominada de Peninsula e às Anteriores de 1801 e do Roussillon e Cataluña, (v. 1), Lisboa, Imprensa Nacional, 1863., pp. 49-50

Ilustrações, contidas no livro, de Sequeira.

8 de maio de 2014

Pequena biografia: Jorge Frederico Lecor (1771-1822)

Brigadeiro J. F. Lecor, 1817
(óleo de Joaquim Leonardo da Rocha,
Museu da Quinta das Cruzes, Funchal)
JORGE FREDERICO LECOR, quarto filho de Luiz Pedro Lecor e D. Quitéria Luísa Marina Lecor, nasceu, muito provavelmente, em 1771, ainda em Lisboa, no bairro de Santos-o-Velho. 
Muda-se para Faro com a sua família algures na década de 1770. Com apenas 17 anos, a 10 de Março de 1788, “sentou praça de voluntário e jurou bandeiras” no Regimento de Infantaria de Faro, aquartelado então em Tavira. A 16 de julho do ano seguinte, passa ao Regimento de Artilharia do Algarve, em Faro, junto à família. Embarca em 1793 com os irmãos, João Pedro e António Pedro, também cadetes, e as três companhias de artilheiros de Faro para a Catalunha onde participa nas operações do Exército Auxiliador. Cai prisioneiro de guerra dos franceses, em 1794, durante nove meses. A 7 de outubro de 1795, após retornar de França, é promovido a 2.º Tenente da 8.ª companhia de artilheiros do seu regimento. Está, durante o ano de 1797, no acantonamento do Alentejo. Durante este ano, a 11 de outubro casa-se, por procuração, com D. Germana Guilhermina  Máxima Buys, sua prima, na Ermida de Pé da Cruz. Cinco anos depois, a 6 de novembro de 1800 passa no mesmo posto de 2.º Tenente à companhia de Bombeiros [observadores de artilharia]. Quatro meses antes, nasce o seu primeiro filho, também Jorge Frederico. Participa na campanha de 1801, nas praças de Castro Marim e Vila Real, e depois no Alentejo. A 14 de outubro de 1801, é promovido a 1.º Tenente da 6.ª companhia de artilheiros, onde se mantém por três anos. 
Igreja do Pé da Cruz, Faro,
onde se casou, por procuração, em 1797

A 15 de agosto de 1805, é promovido a Sargento Mor Ajudante de Ordens do novo Vice-Rei da India, o Conde de Sarzedas, D. Bernardo José Maria Lorena e Silveira. Chegou a Goa, com o Vice-Rei, no dia 27 de maio de 1807. Por patente do Vice-Rei, de 1 de setembro de 1808, é nomeado Governador de Damão, sendo graduado em Tenente Coronel. Três anos depois, em 1811,  parte de Goa para o Brasil, dias antes de 15 de dezembro, mas a 17 de dezembro de 1811, é graduado em Coronel do Regimento de Artilharia de Goa. 

Em 12 de Outubro de 1814  é nomeado Coronel comandante do Corpo de Artilharia da Madeira É graduado a Brigadeiro a 12 de outubro de 1814. Feito comendador da Real Ordem Militar de S. Bento de Aviz a 13 de maio de 1815, a 22 de janeiro de 1818 é promovido a Brigadeiro efetivo. Em 1820 é participante activo, já Brigadeiro, no movimento Constitucional madeirense.  Morre, precocemente, a 22 de Setembro de 1822, aos 51 anos.

Casado com D. Germana Guilhermina Lecor, deixou profícua descendência, contando eu pelo menos 4 filhas, todas elas casadas com distintos cavalheiros madeirenses: Guilhermina Máxima Lecor; Matilde Eufémia Lecor; Maria Emília Lecor & Henriqueta Aurora Lecor.


Postagens antigas sobre Jorge Frederico Lecor:
- Biografia (feita em 2008, obsoleta):  http://lecor.blogspot.pt/2008/04/carlos-frederico-lecor.html

7 de maio de 2014

Pequena biografia: António Pedro Lecor (I Parte: 1768-1828)

Largo da Sé, em Faro (fonte: wikicommons)
ANTÓNIO PEDRO LECOR, terceiro filho de Luiz Pedro Lecor e D. Quitéria Luísa Marina Lecor, nasceu a 6 de Setembro de 1768, em Santos o Velho, Lisboa, apesar de, por alguma razão, ter sido baptizado na paróquia vizinha de Alcântara, 22 dias depois. Muda-se para Faro com a sua família algures na década de 1770. Com 18 anos, a 10 de Março de 1788, e dois meses após o seu irmão Jorge Frederico, alista-se como voluntário no Regimento de Infantaria de Faro, aquartelado então em Tavira. Durante esse período, e durante um ano, frequenta a Aula Regimental de Tavira, onde estudou os dezasseis livros do curso matemático de Bellidor, tendo sido admitido ao estudo de fortificação de Antoni. Passa ao Regimento de Artilharia do Algarve, em Faro, também como o irmão, a 16 de julho do ano seguinte. Embarca na nau S. António, em Lagos, em 10 de agosto de 1793 com os irmãos, João Pedro e Jorge Frederico, também cadetes, e as três companhias de artilheiros de Faro para a Catalunha onde participa nas operações do Exército Auxiliador. Na Catalunha ou Roussilhão, sofre ferimentos não especificados que fazem com que seja afligido de uma moléstia nervosa, que mais à frente, lhe impede a mobilidade e independência pessoal. Antes ainda de retornar às sede do seu regimento, é promovido a 2.º Tenente da 4.ª companhia de artilheiros a 31 de outubro de 1795. A 16 de novembro de 1800 passa no mesmo posto à companhia de sapadores e mineiros. Em 1803 é colocado numa lista de incapazes, mas apenas a 17 de dezembro de 1805 passa à reforma. A 20 de setembro de 1808, no entanto, é promovido a 1.º Tenente agregado da Companhia de Artilharia Fixa de Faro, recebendo a carta patente a 2 de janeiro de 1812. Apesar da sua moléstia crónica, que o impede de fazer uso das mãos, é promovido , na promoção geral de 24 de junho de 1815, a Capitão, assistente do Ajudante General da Divisão de Voluntários Reais do Príncipe, mas não acompanha a divisão para o Brasil, sendo promovido a Sargento Mor Governador da Praça de Faro a 28 de maio de 1816. Mantém-se neste cargo até 1828, apesar de se apresentar, em 1824, “muito doente e magro”, “débil” e “incapaz de todo o serviço”.

(Ainda por continuar)

Leia também:
- Acontecimentos em Faro, 1828

6 de maio de 2014

Pequena biografia: João Pedro Lecor (I Parte: 1766-1816)

Sé de Faro, onde João Pedro se casou em 1804.
(fonte: Wikicommons)
JOÃO PEDRO LECOR, segundo filho de Luiz Pedro Lecor e D. Quitéria Luísa Marina Lecor nasceu a 7 de outubro de 1766, em Santos-o-Velho, Lisboa, na rua São João da Mata. Muda-se para Faro com a sua família algures na década de 1770. Alista-se por volta de dezembro de 1792 ou Janeiro de 1793, no Regimento de Artilharia do Algarve, com quartel em Faro, sendo soldado da 5.ª companhia de artilheiros. Oito meses após assentar praça, é nomeado cadete (muitas vezes dito também sargento-cadete), apesar de ter mais 4 anos que a idade estabelecida no decreto de 1757. Embarca na nau S. António, em Lagos,  em 10 de agosto de 1793 com os irmãos, António Pedro e Jorge Frederico, também cadetes, e as três companhias de artilheiros de Faro para a Catalunha onde participa nas operações do Exército Auxiliador. Cai prisioneiro de guerra dos franceses, em 1794, e permanece em cativeiro na área de Toulose por dez meses. A 7 de outubro de 1795, e de volta à sede do regimento, é graduado em 2.º Tenente. Vai a 1 de abril do ano seguinte como Tenente na Legião de Tropas Ligeiras, na 4.ª companhia de infantaria. No entanto, por alguma razão, acaba por voltar logo em seguida para o regimento de Artilharia do Algarve, ficando como 1.º Tenente da 4.ª companhia de artilheiros. No ocaso do século XVIII, a 13 de fevereiro de 1800, é graduado em Capitão, em atenção ao serviço prestado na Campanha do Roussilhão e Catalunha, e aos prejuízos sofridos enquanto esteve prisioneiro dos Franceses, mantendo o exercício de 1.º Tenente da 4.ª companhia. A 28 de julho de 1804, João Pedro casa-se com Brigida Leonor da Fonseca, na Sé de Faro. Um ano depois, a 17 de dezembro é promovido a Capitão efetivo, comandando a 6.ª companhia de artilheiros. Durante a primeira invasão Francesa, entre finais de 1807 e 1808, pede a demissão do Regimento de Artilheria n.º 2, indicando numa carta de 1814 que foi o único oficial que o fez. Aquando do levantamento anti francês e criação da Junta em Faro, a 22 ou 23 de junho de 1808, foi empregue como enviado da Junta, com o seu primo Tenente Coronel António Pedro Buys, à esquadra inglesa e depois a Cadiz e Gibraltar, por forma a adquirir víveres, armas e munições.
Albufeira (fonte:wikicommons)
A 17 de novembro de 1809, é promovido a Sargento Mor Governador da Praça de Albufeira, 35 quilómetros a oeste de Faro. Permanece nesse cargo durante a Guerra Peninsular e bem até 1815. Queixa-se bastante do pouco rendimento que obtém do seu posto, tendo em atenção à pouca movimentação portuária. Em 22 de junho de 1815, é nomeado para Tenente Coronel Ajudante de Ordens principal do seu irmão, Tenente General Carlos Frederico Lecor, na Divisão de Voluntários Reais do Príncipe. Participa na organização desta unidade para intervir no Reino do Brasil. Embarca, com todo o estado maior e a infantaria da Divisão, a 20 de janeiro de 1816, chegando ao Rio de Janeiro a 30 de março.

Postagens antigas sobre João Pedro Lecor: 
- "Coisas que nunca mudam" (1814):  http://lecor.blogspot.pt/2008/05/coisas-que-nunca-mudam.html
- Biografia (feita em 2008): http://lecor.blogspot.pt/2008/03/joo-pedro-lecor.html

9 de maio de 2008

Coisas que nunca mudam...

Illmo. e Exmo. Senhor

As tristes circunstâncias, em que me acho, me obrigão a hir por este modo pedir a V. Exª. a mercê de ouvir meu irmão Carlos Frederico Lecor, a quem tenho encarregado aprezentar a V. Exª. o meu requerimento, e documentos juntos; e igualmente expor a V. Exª. que sendo eu o unico ofecial de Artilharia que pedio a sua demissão para não servir com os Francezes, nem por isso tenho comseguido aumento no Serviço capaz de dar a perciza manutenção. Deus guarde a V. Exª.

Albufeira, 12 de Dezembro de 1814


De V. Ex.ª
Subdito Obediente

João Pedro Lecor

Esta carta é auto evidente e insere-se em inúmeras outras que já li, onde o Estado não paga o que deve aos militares. Há coisas, portanto, que nunca mudam...

Por outro lado, fica claro que João Pedro Lecor era Governador da Praça de Albufeira, e Major, até esta data, e muito provavelmente até rumar a Belém, integrado na nóvel Divisão de Voluntários Reais do Príncipe (vide post anterior "João Pedro Lecor" - Março 2008).

31 de março de 2008

João Pedro Lecor


Carlos Frederico Lecor era o irmão mais velho dos cinco filhos de Louis Pierre e da D. Quitéria Mariana Luísa. Logo a seguir vinha João Pedro, 2 anos mais novo. (na foto, a Igreja Paroquial de Santos onde Carlos e João foram baptizados).

João Pedro Lecor nasceu no dia 7 de Outubro de 1766, em Santos-o-Velho, paróquia de Lisboa. Os pais e o bebé Carlos moravam na Rua de São João da Matta, quando receberam o novo rebento da família.

João ingressou como Cadete no Regimento de Artilharia do Algarve (RAA), em 17 de Novembro de 1792. Em 1793 vai para a Campanha do Rossilhão, onde, ainda como Cadete, chega a comandar batarias e onde acaba por ficar prisioneiro dos Franceses durante 10 meses.
Ao retornar a Portugal, em 1795, é promovido a 2.º Tenente da 4.ª Companhia do RAA. A sua carreira prossegue regular, sendo promovido a 1.º Tenente em 1/3/1797 e graduado em Capitão a 13/2/1800, sempre na 4.ª Companhia de Artilheiros.
A 17 de Dezembro de 1805, João é promovido a Capitão efectivo, desta feita da 6.ª Companhia. Faltavam então 2 anos para nos vermos invadidos pelos Franceses e pelos Espanhois.

Não sabemos se João acompanhou o seu irmão numa fuga para a Inglaterra, se simplesmente se demitiu, mas é certo que em 17 de Novembro de 1809, é Governador da Praça de Albufeira, com o posto de Sargento-Mor (Major, hoje em dia).
Não tenho, infelizmente, mais dados acerca do que João fez durante o período da Guerra Peninsular, mas calculo que se manteve no cargo de Governador da Praça de Albufeira (ainda ocupava este cargo em Outubro de 1810), pois não participou no Exército Português de Operações.

Terá sido promovido a Tenente-Coronel por altura da formação da Divisão de Voluntários Reais do Príncipe, em que funcionou como ajudante d'Ordens do irmão Carlos Frederico, o comandante.
Em 1818, já tem o posto de Coronel e em 26 de Março de 1821, é promovido a Brigadeiro.

Em 1823 é um dos militares que acompanham Carlos Frederico Lecor para o serviço do nóvel Império Brasileiro, estando decerto entre os nomes da nota de deserção enviada para Lisboa pelo Brigadeiro Álvaro da Costa de Souza Macedo.

Pouco sei acerca do seu serviço no Brasil, apenas que faleceu no dia 7 ou 8 de Julho de 1844, nas funções de vogal do Conselho Supremo Militar e no posto de Marechal-de-Campo (actual General-de-Divisão, no Brasil), sendo sepultado no Convento de Santo Antônio (usando a grafia brasileira).

Ao contrário do seu irmão, João deixou descendência, entre o quais se encontra um outro Carlos Frederico Lecor, que trabalhava no Ministério dos Negócios Estrangeiros brasileiro em 1851.

Quando houver novos desenvolvimentos, trarei a este blog. Consta no entanto que foi perante uma parada de tropas, sob o comando de João Pedro, que o Imperador D. Pedro I teve um dos seus ataques epilépticos. Mais sobre isto quando puder desenvolver.